quarta-feira, 29 de abril de 2009

¡Ahmedinejad pode ser bom para o Brasil!

Somente hoje, ao ler a coluna Radar on-line no site da Veja, tomei conhecimento da visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmedinejad, ao Brasil, que ocorrerá na semana que vem (me perdoem os leitores mais críticos, mas lembro que estou morando em Madrid e ainda me encontro em uma epópeia espanhola para fazer meu DNI e a matrícula na posgraduação de Relações Internacionais da Complutense de Madrid.

Deixando o fator polêmico de lado, vale a pena analisar com olhos atentos os benefícios que essa aproximação de diálogo pode render ao Brasil. Esclareço que não tenho admiração nenhuma para com o "excentrico" Ahmadinejad e tampouco compartilho as ideias e conclusões dele em relação a Israel e ao Holocauto. No entanto, se tem alguma coisa que os oito anos da era W. Bush já nos mostrou é que o isolamento dos países islamicos e o maniqueísmo infantil da classificaçao "Eixo do Mal" não resolverão o problema - nem o de Israel, nem o dos Estados Unidos e muito menos o do conflito cultural entre mulçumanos e o resto do mundo.

É uma ótima oportunidade para o Brasil iniciar um envolvimento maior em assuntos internacionais fora das fronteiras da América Latina e galgar, não com verborrogia nacionalista, mas sim com diplomacia e uma certa dose de barganha comercial, uma maior participação nas decisões de importantes questões mundiais. Ponto para o Lula nesse aspecto, que com sua popularidade dentro e fora do país pode e deve arriscar iniciativas menos conservadoras em políticas internacionais.

O fator Barack Obama também alivia a tensão e, certamente, foi avaliado pelo governo e o Itamaraty ao oficializar o convite. No governo norteamericano anterior, realmente seria uma casca de banana e poderia ser interpretado como um deslocamento de Lula em direção aos radicais que teimam em promover ideiais ultrapassados do século 19 - vulgo Chavez, Evo Morales e o próprio Ahmedinejad -, mas é indiscutível que atualmente o mundo surfa em ondas mais favoráveis para um diálogo responsável, sem os amendoins que muito possivelmente Bush jogava para o alto enquanto seus conselheiros e generais falavam de política internacional.

Ao receber o iraniano, o Brasil pode dar um passo importante para ajudar a abrir um canal de comunicaçao entre Irã e Estados Unidos e sair fortalecido. Já deviamos ter atingido a maturidade suficiente para entender a complexidade que envolve as querelas entre Ocidente e Oriente Médio e parar de comprar uma briga sem sentido, como uma criança que entra em uma briga para defender o amiguinho mais legal, mesmo sem conhecer bem o motivo da peleja. Quando não se entende de verdade o motivo, o certo é tentar separar e promover um entendimento quando possível, até porque, se você "chega na voadora", é bom ter certeza de que está lutando do lado certo e que o seu "amiguinho" também te ajudará em uma próxima. Ademais, deve ser levado em consideraçao o aspecto econômico - aos puritanos de plantão, sem falsas demagogias, por favor.

A atual gestão brasileira é criticada, com razão, justamente por ter negligenciado a necessidade de acordos bilateriais para apostar todas as fichas na ainda viva, porém combalida, Rodada Doha. E o que a crise atual nos mostra é exatamente que, em um mundo globalizado, quanto mais diversificada estiver a lista de players comerciais, melhor. Para quem não sabe,o Irã é detentor de boa parte do petróleo no Oriente Médio, mas importa 40% do combustível que consome devido a sua reduzida condição de refinar o próprio petróleo. Isso se soma ao fato de que a Petrobrás possui plataformas no país xiita. Finalizando com argumentos econômicos, o governo de Teerã também está entre os maiores compradores de milho produzido no Brasil e foi o principal mercado no Oriente Médio  para as exportações brasileiras em 2006 e 2007.

Para seguir a linha de raciocínio do presidente Lula, que adora uma metáfora futebolística, depois de tantas tonterias protagonizadas pelo governo atual no que diz respeito à política internacional, finalmente pinta uma jogada que pode resultar em golaço.

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