quinta-feira, 30 de abril de 2009

¡Berlusconi e suas mulheres!

De todas as notícias que pude ler hoje, a que mais me chamou a atençao nao foi nem a notícia em si, mas alguns comentários de uma italiana no fórum de debates logo abaixo da reportagem no site do El País. A matéria leva o título: Berlusconi retira a la mayoría de las 'misses' de las listas europeas de su partido.

Em resumo, trata-se dos comentários da esposa do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, sobre a iniciativa tomada pelo partido liderado pelo maridao de lançar às próximas eleiçoes legislativas várias candidatas com formaçao e engajamento político discutíveis. Os principais critérios para a escolha seria simplesmente a beleza estética acima da média e a popularidade que algumas delas já têm ao apresentar programas televisivos de sucesso na velha bota - algumas, inclusive, sao funcionárias nos canais do próprio Berlusconi.

A estratégia de Berlusconi e mesmo o "piti" público de sua senhora nao me impressionam, afinal nao é a primeira vez que a primeira-dama comenta as peripécias do "garanhao italiano" publicamente. Além disso, nao espero muito de um chefe de governo que teve a falta de sensibilidade de proferir a seguinte pérola para os milhares de desabrigados do terremoto que vitimou a Itália recentemente: "Nao falta nada para eles. Têm cuidados médicos e comida quente. É como um fim de semana em um acampamento".

O interessante ao ler a notícia foi justamente os comentários de uma italiana identificada somente como Maria (estao todos postados no mesmo link da notícia no primeiro parágrafo). Entre alguns disparos venenosos contra a atual situaçao econômica da Espanha - normal, espanhois e italianos nutrem uma picuinha secular -, ela escreve algumas frases como: "Sabem por que as italianas nao saem de casa? Porque lá é genial, as pessoas estao contentes e a mentalidade das mulheres está com Berlusconi". E finaliza: "A sociedade italiana é assim mesmo, a mulher em casa cozinhando para os... enfim. Os italianos estao contentes e consideram Berlusconi um vencedor".

Primeiro, é no mínimo curioso ela ter desistido, enquanto escrevia, de digitar o pensamento completo para dizer que cozinham...para os homens. Como se, de repente, o orgulho tivesse dado lugar a um conformismo enrustido. Mas, principalmente, é um pouco decepcionante em um primeiro momento e revoltante depois - já me explico - verificar como algumas mulheres europeias ainda conservam um pensamento pitoresco de sua própria importância em uma sociedade moderna. Elas recebem educaçao, sebem falar um ou dois idiomas além da língua do país que vive, falam de arte e cultura, mas enxergam seus deveres cívicos e morais igual a qualquer mulher de um país subdesenvolvido da América Latina, que nem de longe teve as mesmas oportunidades de adquirir uma consciência mais evoluída em comparaçao às europeias.

Daí surge uma pontinha de revolta. Um brasileiro que já viveu um tempo razoável ou que vive na Europa - fora dos eixos de visitas turísticas - sabe como os europeus se julgam mais "avançados" em quase tudo relacionado à política, economia e sociedade. No entanto, é só eles olharem um pouco para o reflexo do próprio espelho para comprovar que nao é bem por aí. E nesse mesmo sentido, podemos dizer que Berlusconi é muito mais que uma simples rachadura no vidro. É uma quebra que proporciona muito mais que sete anos de azar.

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